A animação brasileira se aproxima de sua maturidade e consolidação como força na cena cinematográfica do país. O sucesso internacional de alguns nomes como Carlos Saldanha atraiu os olhares do público para a produção interna (mesmo que ainda de um público não tão amplo quanto deveria ser) e hoje, nos cinemas, Uma História de Amor e Fúria forma sua trajetória como superprodução da animação adulta no país. Frutos da abertura de cursos universitários específicos para a área e da criação de festivais dedicados ao cinema de animação são colhidos agora.
O Ovo de Fantasma conversou com Sávio Leite, Diretor de Eventos da Associação Brasileira de Cinema de Animação e professor de Animação na UNA/BH, sobre as perspectivas do ramo que risca traços cada vez mais fortes e linhas cada vez mais ousadas no cinema brasileiro.
Primeiramente, como funciona a ABCA?
A Associação Brasileira de Cinema de Animação foi criada dentro do Anima Mundi como um espaço onde os animadores pudessem se reunir, buscando alternativas para o desenvolvimento da animação no Brasil. Nossa função é organizar editais e concursos para que a animação ganhe um pouco mais de visibilidade em território nacional.
Fale um pouco sobre seu trabalho na ABCA.
Bom, agora eu sou diretor de eventos. O diretor de eventos, basicamente, cuida do dia internacional da animação aqui no Brasil, dia 28 de Outubro, atendendo mais de trezentas cidades. Fora isso, irei propor encontros regulares durante o ano em eventos de cinema, como o festival internacional de curtas de São Paulo, o festival de Tiradentes e o MUMIA.
Existe algum pré-requisito para quem deseja se associar no site?
Não necessariamente. Embora exista uma categoria de aspirante a sócio onde é só mandar o seu portfólio ou currículo. Uma vez aceito, você paga uma anuidade e já faz parte de uma lista nacional de animadores. Nessa lista se discutem vários assuntos, desde a criação de pequenas empresas à eventos internacionais e seleções de filmes recebidos.
Como você avalia o atual momento do mercado de animação no Brasil?
Eu sou sempre otimista com relação ao mercado, porque acredito que a animação ficou um longo tempo sendo taxada como uma arte voltada somente para crianças, ou como uma subdivisão do cinema. Porém, hoje as pessoas estão voltando os olhos com mais atenção para a animação, muito por conta de séries que fizeram sucesso, como Os Simpson e Futurama. Enfim, o mercado está em plena ascensão e o próximo boom será da animação.
Qual é a razão desse expressivo período de crescimento?
Olha, sem querer puxar sardinha, mas já puxando, acredito que o fato do Brasil ter um governo mais socialista seja fundamental. Nos anos 2000 para cá, cresceu muito o número de editais, entende? A quantidade trouxe uma certa qualidade e, em um futuro próximo, será ainda mais fácil realizar longas metragens de animação no Brasil.
Dia 5 de Abril estréia nos cinemas um longa de animação nacional, “Uma História de Amor e Fúria”, o que pode ser o ponto de partida de um crescimento ainda maior. Você acredita que esse é o grande momento da animação no Brasil?
Recentemente eu vi o making-off do Luís Bolognesi. É um filme extremamente ousado, pois o Luís não pertence ao mundo da animação e essa é uma dos poucas animações brasileiras com uma temática adulta. Desde o início do roteiro, levou cerca de 10 anos para ser finalizado e conta com um visual muito interessante, fez seu nome em alguns festivais internacionais e tenho certeza que vai agradar a todos, mas eu ainda não vi.
Você é uma referência no Brasil, se tratando de cinema de animação. No momento, está produzindo algum filme?
Sim, tenho dois projetos principais. O primeiro será um curta baseado em um texto da Hilda Hilst, chamado Vênus. O outro é um longa baseado em O Amanuense Belmiro, um livro de um escritor mineiro, chamado Cyro dos Anjos. É importante dizer que nesse exato momento está sendo realizado o primeiro longa de animação da história de Belo Horizonte, Nimuendaju, da Tânia Anaya, estou trabalhando nele também.
Como as pessoas interessadas encontram seus filmes?
No site http://www.leitefilmes.blogspot.com.br, todos os meus filmes estão lá. O site está um pouco bagunçado, mas você encontra.
Para finalizar, qual caminho você indica para aqueles que querem trabalhar com animação?
Na verdade, o caminho é acreditar, colocar na cabeça e fazer. É importante também acreditar no seu trabalho e ter autocrítica, ser rigoroso.
Fazer um curso é crucial?
Essa é uma pergunta que me cala fundo ao coração (risos). No próximo mês lançarei um livro chamado: “Subversivos – O Desenvolvimento do Cinema de Animação em Minas Gerais”, e essa é uma das perguntas que eu coloco. Será que para você ser um animador é necessário uma escola? Um curso é importante, o conhecimento nunca ocupa espaço. Mesmo assim, a arte não precisa de uma escola, a resposta para a pergunta é não.
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