É menos uma questão anatômica e evolutiva que divide os homens e os macacos nesse último filme; menos uma questão de diferença física e mental. Embora tenha “Confronto” estampando no título, é engraçado como esse Planeta dos Macacos opera inúmeros gestos de aproximações, de buscar uma igualdade entre os símios e os humanos, seja nos valores familiares, nas expressões emocionais ou no comportamento violento. Mas aqui não há lugar para o tom satírico que guiava os primeiros filmes da “saga” (lá de 68) porque o filme é sério demais para isso, trata-se então de movimentar a cisma básica e definidora entre os dominantes e os excluídos.
Em um mundo destroçado e pós-apocalíptico, eis a chance dos macacos ocuparem o posto soberano da sociedade. A gripe símia dizimou boa parte da população, privando os sobreviventes humanos das necessidades básicas (enquanto humanos – a energia). Ainda que preservem a “civilidade” (tão valiosa ) a condição não é a mesma. Então temos o “Pense antes de agir”, fala que sai gesticulada por um personagem macaco em determinado momento, colocando os instintos de lado e deixando claro o que está em jogo: o peso da linguagem, o valor da sensibilidade. Planeta dos Macacos: O Confronto dá espaço para mostrar o mundo comum que habitam as pessoas e os símios, mas nunca dá a possibilidade da convivência – afinal estamos falando também de soberania.
A direção do olhar dos macacos abre e fecha o filme. Temos Caesar (Andy Serkis), o símio deflagrador da revolução, preenchendo a tela num olhar ameaçador. O que nos é dado a ver nos primeiros minutos de Planeta dos Macacos, não é outra coisa senão uma caça (ato que cristaliza quem é o dominante). Somente essa cena inicial já divide e mostra a consciência e expressividade demasiadamente humana que o Caesar adquiriu. Ocupando lugar central do longa, o personagem é essa força entre o desejo da civilidade na formação de uma comunidade – tão humana e a preservação da ideia de “ser um macaco”.
A ideia do filme é se estabelecer nesse meio. Vemos as pessoas enxergarem a humanidade dos macacos ( ecoando na suas devidas proporções alguns westerns – os ditos pró-índios- como Flechas de Fogo e O Caminho do Diabo) e desse conflito se estabelecer a disputa pela dominância. O erro do filme é se construir por algumas tramas fracas, como o desentendimento da família de Caesar, a própria família dos humanos com personagens bem desinteressantes – embora a questão esteja mesmo nos macacos, e alguns traços maniqueístas tanto nos animais quanto nos humanos – e que só Caesar escapa.
Num filme que é fundamentalmente interessado em mostrar os traços de um redesenho de uma futura virada dos mal tratados, das cobaias, dos excluídos, Planeta dos Macacos tem como ápice o confronto, a violência animalesca embora armada e montada a cavalo. O “Não” pronunciado em plena negação por Caesar, no longa anterior, ganha potência destrutiva e raivosa. O que se pode dizer do diretor, Matt Reeves, é que ele cumpriu seu papel, em sequências que alimentam a tensão construída, com uma ou duas cenas de destaque (o plano em cima de um tanque especialmente) e outras que dão espaço para o desenvolvimento dos temas do filme. Se O Planeta dos Macacos: A Origem foi a ruptura da dominância, a libertação dos explorados, esse O Confronto, é senão a virada derradeira dos símios, a guerra pela empunhadura do chicote.
Nota: 7,5
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